segurança na circulação em cidade

Venho pedir que seja criado um forum de discussão sobre maneiras de melhorar a segurança para quem usa a bicicleta em cidade. Discutir formas de prevenir acidentes, comportamentos de risco ou agressões pode ser útil para melhorar a segurança de todos. http://www.citynoise.org/article/2770

 

Narro apenas uma das muitas situações desagradáveis que se passaram comigo em Lisboa. A mais recente. Antes do túnel que liga o Bairro do Rêgo à zona do Hospital Curry Cabral, na via que dá acesso ao túnel, ainda antes da rotunda.  Circulava como habitualmente do Estádio Universitário para a Avenida de Berna. Não havia trânsito algum, em nenhum dos sentidos. Ouço um carro a travar bruscamente uns metros atrás seguido de buzinadelas (dirigidas a mim), ao ouvir a travagem olho para trás e noto que o motorista, um taxista, parece surpreendido e furioso. Como nesse troço de estrada há duas faixas de cada lado, e como eu vinha à distância de aproximadamente um metro e meio da berma (passeio), pareceu-me imediatamente que o taxista viria distraido e tivera que travar bruscamente ao aperceber-se que havia um obstáculo. E por isso parecia irritado e buzinava. Habituado a estas situações nem abrandei, segui caminho, contente por perceber que nada de grave tinha acontecido. Além de ter olhado para trás (sem reduzir a minha velocidade) não me dirigi de nenhum outro modo ao motorista. Não havendo trânsito e havendo duas faixas naquele sentido não me ocorre nenhuma outra explicação senão a falta de atenção do taxista. O pior foi que o taxista passado um momento alcançou-me novamente e continuou a buzinar. Tentou inclusivamente encostar-me ao passeio. Eu limitei-me a subir para o passeio, ainda em movimento com a bicicleta (e agora já apreensivo). E qual não foi o meu espanto quando o taxista continua a seguir ao meu lado e um pouco mais à frente, quando o passeio o permitiu, galga o passeio e atravessa o taxi à minha frente? Tentando, suponho, apanhar-me. Como a velocidade já era reduzida e as bicicletas travam geralmente bem, o ângulo de manobra do automóvel não possibilitou uma mudança de direcção de 90 graus, pelo que o taxi ficou ainda a uns 30 ou 40 cm da roda da frente da bicicleta. Talvez houvesse tempo ainda de dar meia volta e sair dali mas o que se seguiu foi uma cena parecida à que foi fotografada neste incidente: http://www.citynoise.org/article/2770. Não vou relatar esta parte da história porque a violência é uma coisa horrível e que prejudica toda a gente. Ninguém ganha o que quer que seja com actos violentos. Mas posso dizer-vos que após este episódio deixei de usar a bicicleta em Lisboa durante dois meses. A rotina diária de me deslocar para a Universidade de bicicleta foi substituida pela utilização do Metro. Deixei de me sentir confortável com a utilização da bicicleta e não quis estar com mais chatices. Uma outra consequência deste incidente será a acumulação de animosidade entre este condutor em particular, um profissional aliás, e os ciclistas de uma maneira geral. Na verdade não fiz mais que defender-me e para isso não foi necessário agredir ninguém, felizmente, mas infelizmente desconfio que este taxista em particular há-de querer continuar a vingar-se nos ciclistas e a pensar que os ciclistas não têm direito a circular na via pública. Sobretudo depois da sua manobra de 'abalroamento' e consequênte explosão de violência ter sido frustrada.

Gestos ou palavras agressivas, ou qualquer manifestação de violência por parte de ciclistas não resolve o que quer que seja e pode fazer com que os riscos para todos os ciclistas aumentem. O ambiente, a cultura e a própria legislação que temos, o nosso desconhecimento e falta de civismo, colocam os ciclistas numa situação excessivamente precária. É preciso ser ainda um pouco idealista e militante para usar a bicicleta como meio de transporte em cidades como Lisboa, por exemplo. Mas seja como for, além de lidarmos com os perigos temos ainda que dar um bom exemplo e uma boa imagem dos ciclistas.

lamentável...

... toda esta situação que revela a falta de civismo e o desconhecimento das regras de trânsito. É que muitos automobilistas não sabem que o lugar dos velocípedes é na via pública, não no passeio nem fora da berma da estrada.

Eu dou como conselho evitar as vias rápidas. Afinal não andamos assim tão rápido e temos geralmente muitas possibilidades de atalho. Felizmente que ninguém se magoou e espero que tenha regressado à estrada com a sua bicicleta.

???

>ciclistas devem encontrar soluções para poder sentir-se seguros e não viver em permanente sobressalto e vítimas de constantes agressões.

Concordo...

Mas também acho que a maneira melhor é os ciclistas lutarem por mudanças na legislação...Será importante que a legislação portuguesa tenha uma norma como o artigo 201 de Código de Trânsito brasileiro que obriga a uma distãncia lateral de 1,5m quando um automobilista ultrapassa um ciclista...

Quanto à questão da legítima defesa (possível segundo o nosso Código Civil) convem ter em conta que tem de ser propocional para que se evite excesso de legítima defesa... Se bem que no fundo eu ache que violência desperta quase sempre mais violência...

Em qualquer tipo de acidente rodoviário é importante chamar as autoridades públicas para que a situação fique devidamente registada... e, quando está envolvido um ciclista, é importante que os automibilistas sintam que têm de moderar a sua condução e que sejam chamados à atenção nomeadamente pelas infracções que cometam...

Agradeço os vossos

Agradeço os vossos comentários. O que quis dizer é que os ciclistas devem tentar dar um exemplo de educação, civismo, paciência e tolerância. No caso de injúrias verbais ou fisicas qualquer reacção do ciclista que alimente o modo escolhido pelo motorista acaba por prejudicar todos os ciclistas e a imagem pública das pessoas que se deslocam de bicicleta na cidade. Quanto ao recurso a queixas na polícia, fotos e testemunhas, receio bem que isso só possa trazer mais dissabores e frustração ao ciclista, que acaba assim por ficar prejudicado duas vezes. Vivi em Berlim, em Amesterdão e em Londres, ao todo 3 anos a circular diáriamente de bicicleta em cidade, e nem um único incidente ou confronto com automobilistas. Devo dizer no entanto que, em Berlim por exemplo, os ciclistas mostram-se quase sempre muito zelosos e até agressivos quando se trata de defender os seus direitos - e normalmente um automobilista que comete uma ilegalidade contra um ciclista não fica impune. Em Amesterdão, por defeito e em quase todas as situações, o ciclista tem sempre prioridade. Ou seja, há inúmeras estratégias, e nem todas consideram o silêncio, o consentimento e a indiferença como uma mais valia. Estamos a falar de coisas como o risco de vida, ou o risco de se ficar paralisado para o resto da vida, a massa de um automóvel e de uma bicicleta é desproporcional. Se houvesse um espaço próprio para se discutirem estes assuntos talvez cada um pudesse contribuir com ideias ou histórias para tornar a vida dos ciclistas mais segura. Por isso propus o forum. Volto a dizer que, na minha opinião, em Lisboa é preciso mostrar paciência, contenção, civismo e sangue-frio, no nosso contexto reclamar direitos serve de pouco, a própria polícia muitas vezes desconhece a lei. É preciso primeiro ganhar visibilidade e a simpatia das pessoas.

Caro Paulo, conheço razoávelmente a jurisprudência, os tribunais e a polícia portuguesa. O presidente do Brasil costuma dizer, 'a justiça olha pelo espelho retrovisor, a política olha para o párabrisas, p'rá frente'. O tribunal (ou a polícia) não chega a tempo de salvar o ciclista, e os ciclistas devem encontrar soluções para poder sentir-se seguros e não viver em permanente sobressalto e vítimas de constantes agressões.

Caro Casainho, infelizmente não tive nem presença de espírito nem tempo de sair dali, antes de ter que me defender de uma tentativa de agressão. A consequência mais provável deste facto é que este taxista tenha ficado ainda mais ressabiado e reactivo a ciclistas nas ruas de Lisboa. E embora nem eu nem a minha bicicleta tenhamos sofrido qualquer golpe, e mesmo tendo em conta que o taxista não foi sujeito a qualquer violência, de facto foi apenas impedido de consumar os seus intentos, maniatado, tenho que reconhecer que quem ficou a perder fui eu e todos os ciclistas de Lisboa.

Ainda bem que te safaste,

Ainda bem que te safaste, pois estavas em grande desvantagem. Agora quando ele saiu do carro para te dar porrada, então aí eu dava também! Se era homem e estava com vontade/energias para dar, então também tem de estar pronto a receber -- não acho mal a violência, desde que controlada e em condições iguais.

Já assisti várias vezes a violência entre automobilistas. Eu como ciclista também já tive confrontos com automobilistas. Tenho é pena daqueles que são atropelados (nas passadeiras por exemplo) e não têm hipótese de enfrentar o automobilista.

O que fazer?

O melhor é a via do diálogo...e, caso não seja possível, a simples e compenetrada indiferença. Já se o caso envolve a injúria ou a coacção moral ou física então aí há que, caso se pretenda, apresentar queixa na autoridade pública (PSP, GNR,...). Convem, se possível, recolher fotos, dados de contacto de pessoas que tenham assitido e possam vir a ser chamadas como testemunhas...