Segunda, 17/03/2008 - 20:07 — paulo
Redescubro, contigo, o pedalar eufórico
pelo caminho que a seu tempo se desdobra,
recolhendo os beirais - eu que era um teórico
do ar livre - e revendo o passarame à obra.
Avivento, contigo, o coração, já lânguido
das quatro soníferas redondas almofadas
sobre as quais me entangui e bocejei, num trânsito
de corpos em corrida, mas de almas paradas.
Ó ágil e frágil bicicleta andarilha.
ó tubular engonço, ó vaca e andorinha,
ó menina travessa da escola fugida,
ó possuída brincadeira, ó querida filha,
dá-me asas - trrrim! trrrim! - pra que eu possa traçar
no quotidiano asfalto um oito exemplar !
Alexandre O'Neill; "Elogio Barroco da Bicicleta" in A Saca de Orelhas, 1979