Uma mulher de 76 anos morreu anteontem depois da bicicleta em que seguia ser
abalroada por um carro, na Estrada Nacional 335-1, na Tocha. O condutor do
automóvel, que abandonou o local do acidente, está prestes a ser julgado por
um outro acidente, ocorrido em 2003, numa freguesia vizinha, Também matou uma
pessoa e abandonou o local do acidente.
Foi por volta das 16 horas que Maria Augusta Andrade sofreu o acidente que
viria a ser fatal. Depois de ter almoçado em casa da filha mais velha, na
povoação de Berlengas, freguesia da Tocha, concelho de Castanhedo, decidiu
voltar a casa, algumas ruas à frente, na bicicleta que, apesar dos seus 76
anos, a transportava nas "voltinhas pela terra".
"Ela saiu e seguiu em direcção à praia da Tocha. Eu, que estava aqui fora,
ouvi uma grande travagem e, logo a seguir, ouvi um estrondo e vi um vulto pelo
ar. Nunca pensei que fosse a minha sogra, só quando corri para o local e vi o
corpo na valeta", contou, ao Jornal de Notícias, Alamiro Saltão, genro da
vítima, enfermeiro.
Travagem de 38,5 metros
Alamiro Saltão explica que, depois da travagem feita pelo carro - "de 38,5
metros segundo a medição da GNR"-, o condutor chegou a abrandar, mas
rapidamente colocou o automóvel de novo em andamento, abandonando o local.
"Enquanto eu estava a socorrer a minha sogra - "vi logo que a pulsação estava
muito fraca" - e a telefonar para os bombeiros, o carro desapareceu. Fiquei
mais descansado porque entretanto apareceu logo uma pessoa que disse que viu o
carro e sabia quem era o condutor", relatou.
De acordo com informações da GNR de Cantanhede, o homem, de 41 anos,
residente na Praia da Tocha, apresentou-se, ontem de manhã, no posto da Guarda
da Tocha e assumiu a sua participação do acidente.
Ao que o Jornal de Notícias apurou, a explicação para o abandono do local
terá sido a de temer a reacção e represálias da parte dos familiares da
vítima.
Muita velocidade
A justificação, porém, não convence Alamiro Saltão, que sublinha que nem
houve tempo para altercações "que o fizessem temer o que quer que fosse", e
que aposta no excesso de velocidade como causa do acidente.
"Há aqui sinais a proibir velocidades superiores a 50 quilómetros por hora,
mas as pessoas passam ao dobro da velocidade e uma travagem de mais de 38
metros é sinal de que o automóvel deveria seguir com muita velocidade. Em
excesso", sublinha.
Se na Tocha a população comenta os "demasiados azares" do automobilista, a
GNR, que se escusa a falar para já das causas do acidente, apenas confirma que
o caso se assemelha a um outro, em que o condutor também foi protagonista.
O homem, empregado fabril, solteiro, terá embatido contra um velocípede, em
2003, na freguesia vizinha da Sanguinheira, e do acidente também resultou uma
vítima mortal.
Tal como agora, o condutor abandonou o local do acidente e só posteriormente
foi identificado pelas autoridades. O processo relativo ao caso ainda decorre
no Tribunal de Cantanhede.
Maria Augusta Andrade tinha 76 anos, mas era perfeitamente autónoma, "tratava
da casa e da sua hortita", e, como muita gente na freguesia, circulava
habitualmente de bicicleta, inclusive na Estrada Nacional 335-1, que liga a
Tocha à praia com o mesmo nome, e onde raramente é respeitado o limite de
velocidade de 50 quilómetros por hora.
http://jn.sapo.pt/2008/04/20/pais/atropelou_e_fugiu_pela_segunda_vez.html