Um artigo no Público e na blogosfera, sobre a chatice e incoveniente das biclas em Lisboa, causou alguma polémica, e eu resolvi dar uma achega. Aqui fica o meu comentário no blogue em questão:
"Lisboa de bicicleta é do melhor que há. Há vinte anos atrás, era ainda muito mais raro ver malta a pedalar na cidade, e eu subia a Infante Santo, para ir dar aulas no Liceu Pedro Nunes. Nos dias de calor, transpirava mais dentro de um autocarro do que a pedalar Avenida acima, onde o ar sempre corria mais e não suava em bica. E, no regresso, divertia-me com a alucinante velocidade atingida. Nunca fui atropelado, e nunca atroplei ninguém, só uma vez bati num carro ao ultrapassar pela direita, mas logo acabei a ultrapassagem e pedi desculpa. Habituado a andar de bicicleta em Coimbra, e morando bem no alto de Santa Clara, ao ir para Lisboa não me consegui adaptar aos transportes públicos, às esperas nas paragens, aos apertões, ao calor. E lá levei a minha bicicleta comigo. Durante um ano fui muito feliz a pedalar pela cidade. Lembro-me também de num fim-de-semana ter pensado dar um passeio até Cascais, mas nunca mais repeti a façanha, pois de passeio imaginado a um horror de milhares de carros a passarem e a "apertarem-me" para o lado, foi só uma pedalada.
Os anos passaram, e agora a norma são os autocarros com ar condicionado. Já há mais utilizadores de bicicleta nas ruas. Nunca mais voltei a trabalhar em Lisboa, mas de vez em quando vou lá, para tratar de assuntos pessoais. E, desde finais do ano passado, tenho uma Mobiky Genius, que me permite ir a Lisboa de transportes colectivos, chegar lá e fazer as minhas pequenas deslocações a pedalar, utilizando ao mesmo tempo os transportes colectivos, para deslocações maiores, subidas mais íngremes, chuvas fortes, insolação insuportável, mesmo nas horas de ponta. A minha genial bicicleta encolhe-se tanto que ocupa menos espaço que um carrinho de bebé. Se houver melhores condições para andar de bicicleta em Lisboa, isso só quer dizer que a qualidade de vida na cidade vai aumentar - e aumenta para todos, residentes ou visitantes, automobilistas ou peões. Ainda que não defenda as ciclovias, a não ser para casos em que a ideia seja permitir passeios familiares, em que as crianças possam pedalar à vontade, imagino que para automobilistas ou pessoas que têm fobia às bicicletas, estudos que dizem que se deve melhorar as condições para quem usa bicicleta, faça muitas cócegas.
Andar de bicicleta em Lisboa é possível, tal como andar de scooter, a gasolina ou eléctrica, e mesmo assim não se vêem tantas como noutras cidades ibéricas. É uma questão cultural, e como tal, passível de evoluir. Num ou noutro sentido. Mas que o custo económico é um factor que ajuda na evolução, sobre isso ninguém tem dúvidas. É pena que tenha que ser assim à força, melhor seria chegarmos lá pela lógica da ecologia global. Mas o importante é ir chegando lá...
Um dos movimentos mais interessantes em termos de evolução cultural é a bicicletada, ou massa crítica. Um movimento que tende a crescer um pouco por todo o lado, e que ajuda a desmistificar a eternamente divulgada má relação automobilista/ciclista, e a má relação cidade/bicicleta."
Comentários
É verdade