A bicicleta como
meio de transporte tem vindo a ganhar adeptos. Apesar das preocupações
ambientais, do aumento dos combustíveis e da procura de uma vida mais
saudável, apenas 1% anda de bicicleta. Não há motivo
aparente para tão fraca adesão, isto apesar de aos fins-de-semana ser
normal ver grandes grupos de cicloturistas e praticantes de BTT. Aliás,
qualquer prova de cicloturismo reúne, normalmente, mais de dois
milhares de participantes. O perfil de muitas das nossas
cidades também não é impeditivo da utilização da bicicleta nas
deslocações casa/trabalho. "A técnica há muito que resolveu esses
problemas. Até as mais pequenas bicicletas desdobráveis já têm três
velocidade no cubo e vencem qualquer subida. Além de que já há muita
gente que as leva na bagageira do carro. Estacionam onde houver lugar e
vão para o emprego de bicicleta", sublinha José Caetano, presidente da
Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores da Bicicletas
(FPCUB). José Caetano encontra outras explicações para nos
encontrarmos na cauda da Europa no que diz respeito à utilização diária
da bicicleta. A principal das quais dá pelo nome de Código da Estrada
(CE). A bicicleta, diz o presidente da FPCUB, "não está ser encarada
como um modo de transporte" e o CE "é um grande obstáculo a quem quer
usar a bicicleta", veículo que quase nunca tem prioridade. "Parece
que ainda não percebemos o que está a acontecer com o preço dos
combustíveis. Penso que, até por razões económicas, mais tarde ou mais
cedo teremos de optar pela bicicleta", refere José Caetano. Para
Ana Pereira, da "Cenas a pedal", uma empresa que se dedica à
comercialização, on-line, de bicicletas e acessórios, o Código de
Estrada, é o "inimigo" principal das duas rodas. "É a questão da
prioridade, que nos prejudica bastante e, também, a obrigatoriedade de
circularmos pelas ciclovias ou faixa cicláveis, que muitas vezes não
estão nas melhores condições. Por outro lado, aumentam o número de
cruzamentos", refere Ana Pereira. Há, efectivamente,
especialistas em mobilidade que apontam diversos aspectos negativos às
ciclovias, como o aumento dos cruzamentos, que é onde ocorrem 95% dos
acidentes com ciclistas. Por outro lado, o traçado das cidades
dificulta a implantação de ciclovias e cria um relacionamento
conflituoso com os peões. Polémicas e estatísticas à parte,
certo é que o ciclismo de lazer tem aumentado de uma forma sustentada,
não sendo descabido pensar que muitos dos praticantes se poderão
facilmente render aos benefícios da bicicletas como meio de transporte
diário. Jorge Mário, da CicloCoimbrões, destacou que a grande
moda são as bicicletas desdobráveis. "Metem-se na mala do carro e podem
ser utilizadas em qualquer altura. Os preços variam entre os 190 e os
380 euros [quadro de alumínio]. O que continua a vender-se bem são as
bicicletas mais caras, para BTT e outras modalidades, como a BMX, que
custam mais de seis mil euros", refere Jorge Mário. Para as voltas da
cidade chegam 300 euros. Se tem dinheiro e só lhe falta a
vontade, siga o exemplo de José Caetano: "Quando tive a "crise" dos 40
deixei de fumar e de beber e comecei a andar de bicicleta. Hoje, com 65
anos, sinto-me com mais saúde e energia do que quando tinha 30 anos". Texto e imagem: Jornal de Notícias - 5.10.2008 Ver também vídeo sobre a notícia aqui