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24 Jan, 12:09h
“Bicicletada” na Boa Vista, Praia e Mindelo
Veio “di fora” mas cada vez está a ganhar mais adeptos em Cabo Verde. Praia e Sal Rei começaram a pedalar em Dezembro último, Mindelo aderiu agora à iniciativa. Sexta-feira os ciclistas tomam conta da rua, é a cidadania em movimento
Praia, 24 de Janeiro 2012 – A coisa pegou em Dezembro na cidade da Praia (Santiago) e em Sal Rei (Boa Vista) e, este mês, pedala pela primeira vez nas ruas do Mindelo (São Vicente). A “Bicicletada”, nome adoptado nos países lusófonos, é a nossa versão crioula da “Massa Crítica”, uma iniciativa que, à escala mundial, adoptou a última sexta-feira de cada mês para divulgar a bicicleta como meio de transporte, criando as condições necessárias ao seu uso nas nossas cidades e promovendo um conceito ecológico e sustentável para o transporte das pessoas em meios urbanos. Ao evento têm vindo a juntar-se “skatistas” e patinadores.
“Não estamos atrapalhando o trânsito, nós somos o trânsito”, parece ser a resposta global aos que se sentem incomodados por verem as artérias rivalizando protagonismo ao transporte motorizado. Mas a ideia é, de igual modo, contestar o ordenamento legal dominante que remete para plano secundário os pedestres e ciclistas, num mundo urbano centrado na “ditadura” do automóvel.
A iniciativa remete-nos para uma questão de fundo que se prende com o ordenamento e a qualidade das nossas cidades, recentrando o debate na humanização da urbe, colocando o espaço público ao serviço das pessoas. A isto, com rigor, chama-se cidadania activa e tem levado várias gestões municipais em cidades deste mundo a repensarem conceitos e devolvendo as ruas à razão maior da sua existência: as pessoas.
A pedagogia cívica é, aliás, componente central deste movimento informal, sem estatutos nem hierarquias. Por exemplo, em São Paulo (Brasil) o humor que caracteriza as acções da “Bicicletada” têm vindo a conquistar os automobilistas, concitando-lhes a consciência dos direitos dos ciclistas ao espaço público. Porque sempre que um ciclista se faz à estrada é “um carro a menos” que polui a cidade, é qualidade de vida que vai crescendo.
Também por cá, com o estado caótico das nossas urbes, o apelo faz sentido redobrado e pode ser, assim se espera – e esperam os organizadores – instrumento de persuasão colectiva e cidadania activa em movimento que aposte no ordenamento sustentado das cidades e no ganho maior do direito à rua.